O movimento concretista, os artistas e as obras da arte concreta no Brasil
A arte concreta do Brasil enfatiza a articulação entre dois dos movimentos artísticos mais enriquecidos do Brasil, o concretismo e o neoconcretismo. O manifesto “A Base da Arte Concreta”, de 1930, afirma que a pintura deve ser construída sem a associação de figuras, natureza ou emoção e, portanto, consistir em planos e cores.
Em resposta à influência européia da Arte Concreta no Brasil, um grupo de artistas, incluindo Lygia Clark, Lygia Pape e Ferreira Gullar, publicou o “Manifesto Neo-concreto” em 1959, que pedia que a arte se tornasse mais expressiva e envolvente.
Mas, neste artigo, vamos nos concentrar em entender o movimento concretista no Brasil, em sua forma mais original.
Arte concreta no Brasil
A arte concreta teve sua origem na Europa do século XX, e foi cunhada dessa forma em 1930, quando o artista Theo van Doesburg (1883 – 1931) publicou o Manifesto da Arte Concreta, em Paris.
Entre os conceitos que explicam o que é o concretismo, apresentados no texto divulgado na revista Art Concret, estava a ideia de que a “arte concreta” refere-se a qualquer tipo de arte abstrata que não tenha referências simbólicas ou figurativas.
Assim, uma pintura abstrata cujos motivos ou formas são evidentemente derivados de quaisquer elementos naturais, não seria considerada arte concreta: o quadro deve ser totalmente desprovido de qualquer associação naturalista.
Como resultado, a maior parte da arte concreta é baseada em imagens e padrões geométricos, e é frequentemente chamada de abstração geométrica.
Assim como no mundo, a arte concreta brasileira, não se limitou a pintura e gravura, dando espaço também para a expressão na literatura e escultura. A poesia concreta no Brasil, diz respeito à literatura e foi representada por Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, entre outros.
A arte concreta no Brasil tem como marco a chegada de Mário Pedrosa, crítico de arte, que em 1945 traz um novo conceito sobre o papel da arte, se opondo à proposta de figurativismo presente no país desde da Semana de Arte Moderna de 22.
O interesse de Pedrosa em romper com as ideias lançadas e, até então, predominantes no Brasil, do modernismo brasileiro, era superar o que ele chamava de “nacionalismo figurativista”, que apresentava o Brasil como algo exótico e regionalista para o restante do mundo. O objetivo, então, era finalmente, internacionalizar a arte do Brasil.
Entre os artistas brasileiros do concretismo, influenciados por Pedrosa, estão Abraham Palatinik, Ivan Serpa e Almir Mavignier.
Entre as características do concretismo no Brasil está o “embate” entre os artistas do Rio de Janeiro e de São Paulo.
As regras rígidas do concretismo não foram por completo aderidas, nem pelos artistas que se diziam concretistas. Houve, nesse sentido, uma “rixa” entre São Paulo e Rio de Janeiro, os dois principais centros da arte no momento.
Enquanto em SP, o Grupo Ruptura encabeçava o movimento concretista no Brasil, com base nas regras rígidas e racionalistas, no Rio, o grupo Frente, segue com menos rigidez essas mesmas regras.
O concretismo dos artistas brasileiros do Grupo Ruptura contava com nomes como:
- Waldemar Cordeiro;
- Lothar Charoux;
- Geraldo de Barros;
- Anatol Wladslaw, entre outros.
Em 1952, o grupo lança seu manifesto de arte concreta no Brasil e realiza a exposição Ruptura, a 1ª oficial do Grupo homônimo, que marca o início oficial do concretismo no Brasil.
Já o Frente, é formado por artistas do concretismo brasileiro como:
- Ivan Serpa;
- Ferreira Gullar;
- Lygia Clark;
- Lygia Pape;
- Franz Weissmann;
- Décio Vieira;
- Abraham Palatinik.
Com as diferenças entre as propostas da arte concreta no Brasil, e o posicionamento do movimento carioca, começa a surgir uma nova vertente da arte. Por meio das teorias de Ferreira Gullar e das experimentações de Lygia Clark articula-se o Neoconcretismo, que tem seu manifesto divulgado em 1959, assinado por Gullar e demais artistas cariocas.
Concretismo e artistas brasileiros
Voltando a nos concentrar na arte concreta no Brasil, citamos abaixo alguns artistas e obras do concretismo brasileiro.
Waldemar Cordeiro
O artista Waldemar Cordeiro (1925 – 1973) nasceu na Itália, mas possuiu nacionalidade brasileira. Tornou-se o líder do Grupo Ruptura em 1952, encabeçando o concretismo no Brasil. Abaixo uma breve linha do tempo com a história do artista brasileiro e da arte concreta no Brasil:
1953: inaugurou escritório de paisagismo;
1956: participa da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada no MAM/SP. 1964: vai até a Europa e se relaciona com artistas ligados ao Groupe de Recherche d’Art Visuel, onde se interessa pelo movimento da Pop Art;
1965: faz parte da exposição Opinião 65, no Rio de Janeiro (MAM/RJ);
1968: inicia suas pesquisas sobre arte em computador, junto com o físico Giorgio Moscati;
1971: organiza a exposição Arteônica;
1972: é um dos criadores do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (IA/Unicamp).
Fonte: Reprodução fotográfica Edouard Fraipont | Waldemar Cordeiro , 1949
Fonte: Reprodução fotográfica Romulo Fialdini | Waldemar Cordeiro , 1952
Lothar Charoux
Também nascido fora do Brasil, na Áustria, o Lothar Charoux (1912-1987), também possuiu nacionalidade brasileira e deixou sua marca na arte concreta brasileira.
1930: matricula-se no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo
1940: inicia o estudo de pintura com Waldemar da Costa;
1947: realiza sua primeira exposição individual, na Galeria Itapetininga.
1948: se dedica a arte concreta no Brasil;
1952: se torna um dos fundadores do Grupo Ruptura;
1963: cria a Associação de Artes Visuais NT – Novas Tendência, em parceria com Hermelindo Fiaminghi (1920 – 2004) e Luiz Sacilotto (1924 – 2003);
1974: recebe homenagem com retrospectiva no MAM/SP e no MAM/RJ;
2005: é publicado o livro “Lothar Charoux: A Poética da Linha”, de Maria Alice Milliet.
Fonte: Acervo Galeria Laart | Lothar Charoux
Fonte: Acervo Galeria Laart | Lothar Charoux
Ferreira Gullar
Com uma história marcada por sua participação na literatura brasileira (inclusive se tornando um dos imortais da Academia Brasileira de Letras), Ferreira Gullar, foi um artista com referências a arte concreta, posteriormente, sendo fundamental para o movimento do neoconcreto.
Abaixo uma linha do tempo com alguns marcos da vida e obra desse artista singular:
1956: participa da exposição concretista, marco oficial do início da poesia concreta;
1959: escreve e publica o “Manifesto neoconcreto”;
1962: se torna presidente do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC/UNE);
1964: se filia ao Partido Comunista Brasileiro (PCB);
1971: é preso pela Ditadura Militar e vai para exílio, continuando a escrever para o periódico, O Pasquim;
1975: escreve o famoso poema, “Poema Sujo”;
1977: volta ao Brasil;
2010: recebeu o Prêmio Camões de literatura
2014: condecorado como um poeta imortal pela Academia Brasileira de Letras.
Fonte: Acervo Galeria Laart | Ferreira Gullar
Fonte: Acervo Galeria Laart | Ferreira Gullar
Talvez um movimento um tanto marginal, a arte concreta ainda produz (e continua a produzir) arte que tem o poder de nos fascinar até hoje.
As obras de arte concreta podem ser vistas pelo mundo, mas também poder ser compradas em galerias online como a Laart.
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