Dadaísmo no Brasil: o contexto histórico modernista, as características e principais artistas
No mesmo período em que o Dadaísmo surgiu e tinha seu ápice na Europa, no Brasil, a arte moderna vivia seus dias gloriosos, como a Semana de Arte Moderna de 1922. Em comum a necessidade de produção de obras de arte polêmicas e originais, e foram justamente esses elementos que permitiram que o dadaísmo no Brasil alcançasse a abrangência que conseguiu.
Entre os desejos da arte moderna no Brasil estava a busca por liberdade criativa e de expressão, especialmente conseguidas por meio das características do dadaísmo europeu.
E foi assim, por meio da apropriação dos ideais dadaístas, que o modernismo no Brasil absorveu a anti-arte e seus discursos políticos, filosóficos e inquietantes.
Dadaísmo no Brasil
Entre os principais artistas plásticos, que vestiram a camisa como artistas dadaístas brasileiros estão Flávio de Carvalho e Ismael Nery.
Flávio foi um dos artistas que trouxeram o dadaísmo para o Brasil, afinal, viveu na Europa por tempo suficiente para conhecer e entender o que era o movimento e seus ideais. Foi um dos principais artistas brasileiros aplicando os conceitos e as características do dadaísmo em suas obras.
Fonte: A Inferioridade de Deus, Flávio de Carvalho, 1931 | Acervo Itaú Cultural | Reprodução Fotográfica Paulo Scheuenstuhl
Além das obras de pintura, as características do dadaísmo estão presentes em outras produções de Flávio de Carvalho, entre elas o teatro. Fundador do Teatro da Experiência (1933), na peça experimental “O Bailado do Deus Morto”, é um exemplo do uso das referência dos elementos dadaístas. Nesta obra, o artista também inclui atributos da arte surrealista.
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Mais tarde, Flávio se tornaria em precursor, também, da arte multimídia no Brasil, bem como um relevante artista de performance.
Ismael Nery foi outro importante artista dadaísta brasileiro, pelo menos na última e mais marcante fase de sua produção artística.
Relevante artista modernista, o pintor também circundou o surrealismo, enquanto se apropriava das características dadaístas e ajudava na construção de um legado para o dadaísmo no Brasil.
Fonte: Morte de Ismael Nery, Ismael Nery, 1932 | Acervo Itaú Cultural | Reprodução fotográfica Romulo Fialdini
Além da pintura, outro importante campo da arte moderna que adotou as características do dadaísmo no Brasil, em larga escala, foi a literatura. Nesse campo, dois nomes são proeminentes entre os demais: Manuel Bandeira e Mário de Andrade.
Você pode se assustar ao ver o nome de Manuel Bandeira como um artista do dadaísmo no Brasil, entretanto, a influência do movimento dentro dos poemas-piada do escritor, era notória.
Mas, é justo dizer que, quando falamos de dadaísmo no Brasil dentro da literatura, o nome mais engajado é o de Mário de Andrade.
Com características da linguagem brasileira livre e com o uso estratégico e abusado de paródias, Mário de Andrade, um dos “fundadores” do modernismo no Brasil, usou e abusou das características dadaístas em seus poemas.
Em “Paulicéia Desvairada” são claros os sinais da presença de elementos do dadaísmo, em especial, no poema “Ode ao Burguês”. Como você verá no trecho transcrito abaixo.
Ode ao burguês
“Eu insulto o burgês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! (…)”
Mário de Andrade
O que é dadaísmo e quais as suas características?
Relembrar alguns conceitos básicos sobre o que é dadaísmo pode ser interessante para entender mais profundamente como as obras, sejam elas pinturas ou o poema acima apresentados, se encaixam dentro do movimento que começou na Europa, na década de 1910.
O dadaísmo foi um movimento filosófico e artístico do início do século XX, praticado por um grupo de escritores, artistas e intelectuais europeus em protesto à Primeira Guerra Mundial. Outro pontos também se somavam ao manifesto dadaísta, tais como uma crítica ao crescimento do capitalismo e consumo exacerbado e do papel da arte nessa nova “era moderna” que se iniciava.
Os dadaístas usavam o absurdo como uma arma contra a elite, afinal entendiam que essa mesma elite contribuia com a guerra e com o status quo que limitava a criatividade.
Como visto, o contexto histórico do dadaísmo foi a Primeira Guerra Mundial (relembrando que o dadaísmo no Brasil surgiria em parceria com a arte moderna). Neste período, muitos artistas, escritores e intelectuais buscaram refúgio do alistamento militar na Suíça.
Zurique virou um “caldeirão” para esses exilados e foi lá em 5 de fevereiro de 1916 que o escritor Hugo Ball e sua parceira Emmy Hemmings abriram o Cabaret Voltaire. Este local surgiu como do cruzamento entre uma discoteca e um centro de artes. Lá os artistas exibiam o seu trabalho num cenário de música experimental, poesia, leituras e dança.
As performances iniciais dos artistas eram relativamente convencionais, mas se tornaram cada vez mais profanas e anárquicas em resposta à carnificina da Primeira Guerra Mundial. Unidos em seu protesto contra a guerra e em sua oposição à ordem ideológica vigente, eles se uniram sob um grito de batalha: o dadaísmo.
Embora os artistas dadaístas estivessem unidos em seus ideais, eles não tinham um estilo unificador. Entre 1917-1920, o grupo dadaísta atraiu muitos tipos diferentes de artistas, incluindo Raoul Hausmann, Hannah Höch, Johannes Baader, Francis Picabia, Georg Grosz, John Heartfield, Max Ernst, Marcel Duchamp, Beatrice Wood, Kurt Schwitters e Hans Richter.
As armas do dadaísmo foram o confronto e a provocação. O dadaísmo por fim, questionou o valor de toda arte e se sua existência era simplesmente uma indulgência da burguesia.
Para muitos historiadores da arte, o principal efeito do dadaísmo foi criar o clima que permitiu que a arte se estivesse viva até hoje e não paralisada pelas tradições e restrições dos valores estabelecidos.
Para aprofundar o conhecimento em relação aos artistas, obras e motivações do dadaísmo na Europa, indicamos o artigo; “O que é Dadaísmo? A arte como protesto no século XX”.
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