Fotopintura: entenda a sua proposta e saiba como ela surgiu
Quem nunca foi visitar os avós ou algum parente distante e se deparou com uma fotopintura pendura na parede? Pois é, essa tradição tomou conta de vários lares brasileiros, principalmente dos nordestinos, no século XX.
Agora, devido à facilidade proporcionada pela fotografia digital e de ferramentas tecnológicas, essa tradição não está tão viva como antes. Porém, a sua relevância para a arte é inegável.
Para saber mais sobre fotopintura, entender o que essa arte significa, quando e como ela surgiu, basta ler este post até o fim. Boa leitura!
Fotopintura: o que é e como ela surgiu?
A fotopintura nada mais é do uma fotografia pintada a mão. Assim, em linhas gerais, representa um híbrido de retrato, fotografia e pintura.
Essa técnica surgiu ainda no século XIX, em 1863, e foi inventada pelo fotógrafo francês André Adolphe Eugène Disdéri, uma das figuras mais emblemáticas do retrato popular de sua época.
Para tanto, o francês utilizou a base fotográfica em baixo contraste e, desse modo, reproduziu a imagem em uma superfície (a tela).
Assim, esse processo criou a possibilidade de transformar uma foto, pois permitiu que o profissional manuseasse o retrato, inserindo tinta sobre a tela (geralmente guache) e que, desse modo, realizasse mudanças em relação à sua cor e outros retoques, de acordo com o gosto do cliente.
Essa técnica representou uma revolução na arte da fotografia ao possibilitar que os retratos em preto e branco fossem coloridos.
Nesse contexto, é válido enfatizar que, além de representar uma evolução técnica, a fotopintura valorizou questões sociais, Isso porque nesse período era comum, para as classes mais altas e a nobreza, pedir que artistas pintassem suas famílias.
Contudo, esse processo apresentava um alto custo. Logo, impossibilitava que pessoas menos favorecidas também tivessem registrados, com cor, seus momentos inesquecíveis.
No Brasil, a fotografia pintada a mão começou a ser empregada pouco depois de sua invenção, em 1866. Porém, ela ganhou notoriedade em terras tupiniquins na década de 1940, atingiu seu auge e se manteve forte até a década de 1980.
Crédito: El País
Fotopintor: artista ou técnico?
É essencial enfatizar a importância da figura do profissional que aplicava a fotopintura. Para muitos, ele nada mais era do um “mero colorista”, uma expressão que, obviamente, trazia uma conotação depreciativa.
Muitos comparavam o trabalho do colorista com os dos pintores e, assim, concluíam que a arte era realizada pelos artistas que pintavam, enquanto os coloristas apenas atuavam de forma técnica.
Essas conclusões, é claro, não condiziam com a realidade. Afinal, criar uma fotopintura demandava delicadeza, senso estético e criatividade.
De acordo com palavras do curador especializado em fotografia Eder Chiodetto:
“O fotopintor dava o ar de dignidade aos retratados, colocando terno e gravata nos homens e vestidos de flores e joias nas mulheres”.
Confira também:
- “O que é fotografia abstrata: características de montagens, dicas para iniciantes e obras”;
- “TOP 7: lista de documentários sobre fotografia para assistir”.
Por que a fotopintura se fez tão presente nas famílias brasileiras?
A fotopintura ganhou fama nas famílias brasileiras de todo o país, principalmente pelo fato de que ela possibilitava que a imagem de uma pessoa querida fosse eternizada e, caso necessário, retocada.
Isso aconteceu de forma mais intensa no Nordeste. Uma razão que explica isso é o fato de essa região ser uma das mais religiosas e apegadas a tradições do Brasil.
Desse modo, em muitos momentos, a fotografia pintada a mão representava um ótimo instrumento de registro de passeatas religiosas e de feiras agrícolas do local, como mostram as palavras do curador Titus Riedl:
“A fotografia popular se encontrava informalmente em lugares de grande aglomeração como passeios públicos, praças, feiras, circos e romarias. Faz parte do dia a dia de quase toda a população e assim da identidade brasileira”.
Essas situações criaram uma identidade cultural bastante forte. Tanto que, até hoje, mesmo com as evoluções tecnológicas, é possível encontrar fotopinturas em regiões mais afastados do Nordeste.
Crédito: Um instante é o bastante
Não deixe de ler: “A história da xilogravura de cordel: o papel da técnica na essência da arte”.
Considerações do Mestre da Fotopintura
O fotopintor mais famoso do Brasil é o pernambucano Mestre Júlio Santos. Dedicado a essa ofício desde menino, o artista precisou se reinventar para continuar atuando.
Para isso, utiliza recursos tecnológicos, como programas de computador. Apesar de considerar a tecnologia bem-vinda, o mestre faz uma ressalva:
“Toda a paleta de cores que nós usávamos antes agora está dentro do computador. Até a borracha limpa-tipos está lá. O que acontece hoje é que o pessoal que trabalha com Photoshop usa o pincel para retocar. Sabe quando isso vai funcionar? Nunca”.
Para conhecer um pouco mais sobre a trajetória do Mestre Júlio Santos, assista ao vídeo abaixo.
Gostou de saber sobre fotopintura? Acredita que essa arte será totalmente transformada digitalmente? Compartilhe sua opinião!
A importância da fotopintura para manter viva a história de gerações brasileiras, principalmente no século XX, é evidente.
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Crédito da foto de capa: Veja SP
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