Anna Maria Maiolino: biografia e obras da artista de “Monumento à Fome”

Anna Maria Maiolino é uma artista multimídia, pintora, escultora e desenhista. Filha de pai italiano e mãe equatoriana, nasceu em Scalea, na Itália, em 1942. Aos doze anos de idade, devido à dificuldade de viver na Europa no pós-guerra, emigrou para a Venezuela com sua família. Lá, iniciou seus estudos na Escola Nacional Cristobal Rojas, em Caracas, no curso de Arte Pura.

Dois anos depois, Anna Maria Maiolino se muda para o Brasil, onde passa a frequentar os cursos abertos da Escola Nacional de Belas Artes. A seguir, vamos conhecer mais sobre a  biografia da artista.

Biografia de Anna Maria Maiolino

No Rio de Janeiro, Maiolino entra em contato com outros artistas insurgentes e participa da Nova Figuração, movimento artístico de reação ao então atual cenário político brasileiro. 

Seu interesse pelas gravuras de folhetos de cordel a aproxima da cultura popular, e Anna Maria Maiolino passa a aplicar essa estética a temáticas sociais e políticas, em suas obras. 

Em 1964, faz sua primeira exposição individual de xilogravuras, em Caracas.

Em 1967, integra a mostra Nova Objetividade Brasileira, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, assinando o manifesto Declaração de Princípios Básicos da Vanguarda ao lado de grandes artistas como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Rubens Gerchman. 

Mais tarde no mesmo ano, a artista realiza sua primeira exposição individual no Brasil, uma mostra de xilogravuras na Galeria Goeldi.

Anna Maria Maiolino vai então à Nova York, onde estuda na Pratt University de 1968 a 1971. 

Lá, começa a transpor a barreira física da arte e se interessa por diversas mídias, como o filme, a fotografia e as instalações.

A década de 1970 é marcada em seu trabalho por ser um período de experimentação e de busca de novas formas menos convencionais de expressão.

Algumas temáticas já então recorrentes nas obras de Anna Maria Maiolino são:

• dicotomia entre tradição e renascimento;
• simbolismo de vida e morte;
• a vivência da ditadura;
• a antropofagia cultural.

Obras de Anna Maria Maiolino

Nos primeiros anos da década de 1970, a artista começa a trabalhar com gravação em Super-8. Seu primeiro trabalho em vídeo, o filme In-Out: Antropofagia, participa do 1º Festival do Filme Super-8 de Curitiba e, posteriormente, de outros festivais no Brasil e mundo afora, como o Festival Internacional do Filme Super-8, na França. 

Esse momento de efervescência artística entra em conflito com o cenário político brasileiro da época: a ditadura militar. 

Essa dicotomia leva a artista a, já no fim da década, se dedicar mais às performances. É quando realiza três de suas mais importantes performances, Mitos Vadios (1978), Arroz e Feijão (1979) e Entrevidas (1981).

Mitos Vadios foi uma performance conjunta organizada por Ivald Granato que contou com obras de Hélio Oiticica, Claudio Tozzi, José Roberto Aguilar, Antonio Manuel, Julio Plaza, Regina Vater e Ubirajara Ribeiro. Ocorreu num estacionamento vazio da Rua Augusta, em São Paulo, no intuito de criticar o tema da primeira (e última) Bienal Latino-Americana, “Mitos e Magia”. Cada um dos artistas trouxe sua própria contribuição à performance.

A obra de Anna Maria Maiolino colocou, em uma pequena mesa, dois sacos de 15kg cada, um de feijão e outro de arroz, e os amarrou num laço com uma fita preta. A essa obra deu o nome de “Monumento à Fome”.

Crédito: Sesc SP

Arroz e Feijão de Anna Maria Maiolino foi uma instalação na qual a artista serviu, sobre uma mesa preta e imponente, pratos de louça dos quais brotam sementes de arroz e feijão. 

Ao fundo dessa obra de Anna Maria Maiolino estava disposta uma televisão que transmitia a gravação de uma boca mastigando aquela comida.

Crédito: Revista Capitolina

A obra Entrevidas de Anna Maria Maiolino foi uma manifestação literal da expressão “pisar em ovos”. 

Nessa performance, a artista cobriu o chão da Rua Cardoso Júnior, no Rio de Janeiro, com ovos de galinha, convidando o espectador a cruzar a rua cuidadosamente, tomando consciência do peso e do lugar que ocupa. 

A própria artista fotografou a performance, incluindo-a em sua série Fotopoemação, composta por poemas visuais captados através da fotografia.

Crédito: Ensembles

Já na década de 1990, a artista retoma a pintura e a mescla com a escultura, trabalhando frequentemente com o gesso, o cimento e a argila. 

Aos poucos vai direcionando toda a sua criação artística para a argila e com ela elabora instalações que levantam uma discussão sobre o corpo como centro da obra de arte, como provocação e tomada de espaço.

A partir dos anos 2000, começa a agregar também a poesia a suas obras, transpondo os limites de sua arte do visual para abarcar também a palavra escrita.

Além dos curtas e das arte-performances, Anna Maria Maiolino também produziu litogravuras e xilogravuras. Você pode encontrar outras dessas obras na galeria online da Laart.

Litografia. Crédito: Laart. Foto de Joca Meirelles

Xilogravura. Crédito: Laart. Foto de Joca Meirelles

Apesar de nascida na Itália, Anna Maria Maiolino tem sua formação pessoal e artística completamente voltada para a América Latina, principalmente para o Brasil. A artista, portanto, traz essa identidade para sua produção artística, tratando sempre de questões intrinsecamente ligadas à vivência do povo brasileiro.

Desde sua participação em uma mostra de arte latino-americana no Royal Museum of Fine Arts, em Antuérpia, na Bélgica, a obra de Anna Maria Maiolino ganhou fama no meio da arte internacional e captou o interesse da crítica européia. 

Suas obras, então, começaram a ser agregadas ao acervo de diversos museus fora do Brasil, como o Reina Sofía na Espanha, o MoMA nos Estados Unidos, e o Castello di Rivoli e a Galleria Nazionale, ambos na Itália, além de muitos outros. 

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