Burle Marx: o artista que transformou o paisagismo em arte
Nascido em São Paulo e criado no Rio de Janeiro, Roberto Burle Marx viajou para Berlim em 1928 para estudar pintura. As visitas ao Jardim Botânico da cidade apresentaram-lhe as possibilidades artísticas das plantações tropicais.
Quando retornou ao Rio em 1930 para estudar arte na Academia Nacional de Belas Artes, o artista testou as ideias que teve a partir das referências alemãs, experimentando criar arte, com plantações nativas, em sua casa.
Seu trabalho chamou a atenção de seu professor, o arquiteto Lúcio Costa, que convocou Burle Marx para projetar seu primeiro jardim para a família Schwartz, em 1932. Essa seria sua primeira experiência profissional como paisagista.
A partir daí, Burle Marx iria revelar ao Brasil uma nova visão. Uma visão do que o paisagismo pode ser botanicamente, socialmente e esteticamente.
Os projetos de arquitetura moderna de Burle Marx rapidamente ganharam reconhecimento.
Considerando-se acima de tudo um pintor, ele tratou suas paisagens como obras de arte, utilizando combinações ousadas de plantios em massa e padrões coloridos de pavimentação amorfa como sua paleta.
Ele se dedicava ao estudo da horticultura, adquirindo novos espécimes de plantas por onde passava, desde suas visitas à sua fazenda em Barra de Guaratiba até nas expedições nas florestas tropicais do Brasil.
Em 1955, ele formalizou sua prática, abrindo Burle Marx & Cia. Ltda., Logo após expandir para a Venezuela e aceitar trabalhos em todo o mundo.
Colaborando com arquitetos famosos, incluindo Oscar Niemeyer, os projetos de paisagismo de Burle Marx, incluem:
- calçadão da Praia de Copacabana;
- Parque do Flamengo, no Rio;
- Cascade Garden em Longwood Gardens;
- Kennett Square, Pensilvânia;
- Parque del Este, Caracas, Venezuela.
Fonte: calçadão da Praia de Copacabana, de Burle Marx
Fonte: Parque del Este, Caracas, Venezuela, de Burle Marx
Fonte: Cascade Garden em Longwood Gardens, de Burle Marx
Também ambientalista, Burle Marx foi um dos primeiros brasileiros a falar contra o desmatamento.
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Quem foi Roberto Burle Marx: paisagismo e obras de arte
Não havia muita forma de arte que Roberto Burle Marx não dominasse. Ele foi pintor, impressor, escultor, cenógrafo, joalheiro, músico, fabricante de tapeçaria e um dos principais arquitetos paisagistas do século XX.
A paixão de Marx pela arte, em todas as suas formas, fortaleceu sua capacidade de projetar paisagens.
O interesse de Marx pela botânica foi inspirado por sua mãe pernambucana enquanto crescia no Rio de Janeiro. Mais tarde, já na Alemanha, o artista ficou ainda mais fascinado por jardins e pelo modo como eles funcionavam.
O fio comum entre todas as artes que Marx praticava era o processo artístico. Ele explorou novas técnicas e aplicou à identidade cultural brasileira.
Por toda essa junção de fatores, Burle Marx foi elogiado por sua técnica, domínio e experimentação, ao redor do mundo.
Entretanto, mesmo dominando variadas formas de expressão da arte, Burle Marx se concentrou na arquitetura da paisagem, ou paisagismo, em um nível ainda mais profundo.
Ele passou muito tempo com o processo integrado conhecido como tríade:
- Arquitetura;
- Paisagem;
- Pintura.
Onde desenhos e pinturas se transformam em design urbano.
Ao contrário de outros arquitetos da época, o paisagista não tinha medo de estudar regiões e espécies brasileiras estranhas e desconhecidas. Essa diferenciação deu forma e característica ao paisagismo de Burle Marx.
A concentração no paisagismo, fazia com que os elementos presentes em sua obra de arte 2D, incluindo pinturas, gravuras e desenhos, fossem também paisagens cênicas.
Em 1954, Roberto Burle Marx relataria que; “Em relação à minha vida como artista plástico, a formação disciplinar mais rigorosa para o desenho e a pintura foi o jardim … Eu estava interessado em aplicar, à própria natureza, os fundamentos da composição plástica, de acordo com o sentimento estético do meu tempo. Foi, em suma, a maneira que encontrei para organizar e compor meu desenho e pintura usando materiais menos convencionais”.
Resumindo, os espaços públicos ou privados onde o artista exercia a função de paisagista, eram como suas telas e os jardins de Burle Marx eram suas pinturas e gravuras.
Aqui é onde arte e paisagem se cruzam.
As pinturas de Burle Marx, de influência cubista, libertaram-se dos limites da escala.
O design urbano assumiu um papel de composição, gerando espaço sensorial na escala humana.
O paisagismo de Roberto Burle Marx também influenciou sua posição como ambientalista.
Burle Marx em obras
Todos os dias milhares de pessoas passam pelas obras do artista.
Mesmo sem identificarem o local como sendo obra de Burle Marx, é certo que cada um percebe a atuação sensorial dos elementos que compõem a paisagem como um todo.
A maior parte do trabalho de Burle Marx está nos estados brasileiros do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Sua obra também existe em Goiás, Acre e Pernambuco.
Enquanto suas obras variam em escala, elas são sempre marcadas pelo caráter escultural e pela transição da experiência humana pelo espaço. Há aproximação entre pedestre e paisagem.
Além dos já citado, Calçadão de Copacabana, entre os projetos de paisagismo de Burle Marx estão:
- Aterro do Flamengo – Patrimônio Mundial da Humanidade na categoria “Paisagem Cultural Urbana”, título concedido pela UNESCO em 2012.
- Fazenda Marambaia, 1948 (Petrópolis, Rio de Janeiro);
- Fazenda Tacaruna, 1954 (Pedro do Rio, Rio de Janeiro);
- Paço Municipal de Santo André, 1965 (Santo André, São Paulo);
- Fazenda Vargem Grande, 1979 (Areias, São Paulo);
- Biscayne Boulevard, 1991 (Miami).
Paço Municipal de Santo André, 1965
Biscayne Boulevard, 1991
Roberto Burle Marx foi fiel amigo e paisagista de muitas das obras de Oscar Niemeyer, Rino Levi e Paulo Mendes da Rocha.
Os jardins de Burle Marx foram idealizados em cada elemento que os compunham, assim como um poeta escolhe cada palavra em um poema. Portanto, a beleza encontrada em seu trabalho é potencialmente pontuada pela proporção de elementos que os compõe.
As linhas anamórficas e suas variantes, juntamente com o uso de diferentes materiais e espécies de plantas, traduzem-se na fluidez e sutileza de integração entre o projeto e a escala de vegetais.
Nas obras de Burle Marx, está marcada sua preocupação com o uso de diferentes escalas (territorial, vegetal e humana). Apesar de sua notável preocupação com a estética artística, o artista/paisagista afirmou que nunca procurou originalidade:
“Este conceito, isto é, meu pensamento atual, baseado em uma experiência razoável, não busca nenhuma originalidade, nenhuma descoberta, acima de tudo, porque todo meu trabalho responde por uma razão de curso histórico e uma consideração do ambiente natural.”
Através de Burle Marx, o mundo percebeu o quão importante é o papel dos arquitetos paisagistas que criam uma ligação viva entre a paisagem e a arte.
Com tamanha contribuição para a arte e o paisagismo, Burle Marx foi tema de variadas pesquisas. Como resultados, os livros de Burle Marx, compõe a lista de leitura obrigatória para artistas, amantes de arte, arquitetos e urbanistas.
A seguir uma lista de livros de Burle Marx, onde ele foi tema:
- I giardini tropicali di Burle Marx.Gorlich editore,Milano 1964, de Pietro Maria Bardi;
- “Roberto Burle Marx. Il giardino del Novecento”; Firenze, Cantini editore, 1992, de Giulio G. Rizzo;
- Nos jardins de Burle Marx; São Paulo: Editora Perspectiva, 1994, organização de Jacques Leenhardt;
- Roberto Burle Marx: non solo arte dei giardini; su “Controspazio”, de Giulio G. Rizzo.
- Il progetto dei grandi parchi urbani di Roberto Burle Marx, de Giulio G. Rizzo;
- Burle Marx; São Paulo: Cosac e Naify, 2001, Vera Beatriz de Siqueira;.
- Arte e Paisagem – Roberto Burle Marx; São Paulo: Livros Studio Nobel, 2004, organizado por José Tabacow.
Esperamos que com este artigo você tenha respondido a questão “quem foi Roberto Burle Marx” e compreendido o tamanho de sua obra como artista e paisagista.
Para finalizar é preciso relembrar que o paisagista ainda foi agraciado com uma série de prêmios, entre eles:
- Diplôme d’Honneur, Paris;
- Greensfelder Award;
- Order of the Crown;
- Medalha do Mérito Santos Dumont
Um conjunto de obra impressionante, não é mesmo?
Além de presentes no dia a dia de milhares de pessoas que passam pelas paisagens construídas por Burle Marx, sua obra de arte está em coleções de museus em todo o mundo e em galerias.
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Se você não pode ter na sala de sua casa, um pedaço do Calçadão de Copacabana ou um trecho de um dos jardins criados por Roberto Burle Marx, é possível acessar seu acervo de gravuras em tela.
Abstrato, Burle Marx, 1984
Erótica II, Burle Marx, 1985
Acesse o acervo de Roberto Burle Marx na galeria de arte online, Laart, especializada na venda de gravuras originais, assinadas e de série de tiragem limitada, de importantes artistas brasileiros e latino americanos.
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