Quem é Cildo Meireles? Conheça o artista das instalações políticas
Cildo Meireles é um artista conceitual brasileiro reconhecido internacionalmente por sua visão diferenciada e trabalhos provocativos. Assim, é considerado um dos principais artistas contemporâneos da América Latina.
Sua trajetória de vida é marcada por mudanças desde o início. Nascido no Rio de Janeiro, em 1949, ele se muda para Goiânia antes mesmo dos 4 anos de idade. Em seguida, aos 10, desloca-se para Brasília, a então nova cidade do arquiteto Oscar Niemeyer.
Com os anos, o interesse de Cildo Meireles pelas artes começa a aparecer. Primeiro é o desenho que o conquista, depois o cinema. Em seguida, o seu envolvimento com as artes toma um rumo diferente. Logo, aos 19 anos, como resultado natural desse processo, participa de sua primeira exposição de arte no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador.
Quem é Cildo Meireles?
Cildo Meireles é um artista conceitual brasileiro conhecido por seu pioneirismo na criação de instalações artísticas no país. Seus trabalhos são famosos por mostrarem engajamento político e estimularem a interação do público.
Com um repertório bastante diversificado, que engloba desde grandes instalações até notas falsas e garrafas de Coca-Cola, Meireles promove a experimentação por meio de suas obras. Com isso, deseja que seu público interaja de forma direta com elas. Logo, não é à toa, que suas instalações tenham se tornado o seu meio mais forte de autoexpressão.
Com uma arte inteiramente conceitual, os trabalhos do artista valorizam muito mais as ideias do que os valores estéticos comuns.
Vida e obra de Cildo Meireles
Cildo Meireles sempre mostrou paixão pelas artes visuais, especialmente pelo desenho e depois pela escultura. Multifacetado, o artista flertou até com o campo de animações, o que comprova a imensidão de seus interesses.
Em entrevistas, Meireles afirma que suas tendências artísticas foram fortemente influenciadas pelo fato de ter crescido no Brasil. As preocupações sociais o rondavam desde pequeno. Entre os interesses incomuns para um menino, destaca-se a curiosidade sobre o destino dos mendigos com quem cruzava.
Logo, não é de se estranhar que suas obras reflitam o seu interesse pela pobreza e injustiça sociais. Outra característica importante é a influência da cultura indígena (povo Tupi) em seus trabalhos. Preocupado com a ideia da marginalização desse povo na sociedade brasileira, Meireles também retrata essa questão em suas obras.
Se traçarmos uma breve linha tempo de sua trajetória, pode-se considerar que sua história de vida como artista tenha iniciado em 1963, ano em que começa a estudar artes plásticas na Fundação Cultural do Distrito Federal, em Brasília.
No fim dessa década, Meireles descobre o movimento o movimento neoconcreto e, assim, cria uma identificação com ele. Essa conexão acontece principalmente devido à estratégia dos artistas da época de colocarem o corpo e o público como objetos centrais de sua arte. Além disso, usava sua expressão artística como uma forma direta e corajosa de responder aos assuntos políticos do momento, época da ditadura militar, um período extremamente opressor.
Participando ativamente das manifestações políticas em meados dos anos 1960, o artista afirma ter despertado politicamente com elas. Assim, segue sua vida e, em 1967, muda-se novamente para o Rio de Janeiro, onde continua seus estudos na Escola Nacional de Belas Artes.
Junto com Cildo Meireles, Amilcar de Castro também produziu obras no estilo neoconcreto. O acervo da Laart conta com alguns trabalhos dessa célebre artista. Clique aqui e confira uma das gravuras.
Obras de Cildo Meireles: mensagens políticas subversivas
Até 1968, a trajetória de Cildo Meireles é marcada pelo desenho expressionista. No entanto, nos anos 1970, ele abandona esse estilo e coloca a sua atenção na construção de estações. Assim, a sua fase de produção de instalações artísticas se intensifica.
Crédito: Itaú Cultural | 1966 | Cildo Meireles | Representação fotográfica de autoria desconhecida
Nesse período, mergulha em busca por inspirações de objetos de instalação que aconteçam apenas por meio da interação com o público. Sua primeira peça experimental, por exemplo, chamada Espaços Virtuais, mostra ao público a definição de três planos diferentes (comprimento, altura e largura) na percepção humana.
Com Espaços Virtuais: Cantos (1967-68), a interação acontece quando o artista provoca nos espectadores a ação de usar seus próprios corpos para investigar a percepção do espaço real recriado na peça.
Em 1968, o artista produz uma versão tridimensional da série, com três peças em grande escala. Assim, ele as incluiu na exposição do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1969.
Crédito: Museu Nacional Centro de Artes Reina Sofia | | 1968 | Cildo Meireles
Nessa época, o interesse de Meireles pela política se mostra tão forte quanto o seu amor pela arte. Assim, o artista busca uma abordagem inteligente de transpor para suas obras suas mensagens subversivas. Porém, sua intenção era produzir trabalhos delicados, nunca agressivos. Logo, encontrou no dadaísmo uma de suas principais fontes de inspiração devido à sua forma irônica de expressão.
Desvio para o Vermelho é uma das peças mais complexas do artista. Concebido em 1967, esse trabalho consiste em três salas pintadas de vermelho articuladas entre si. Nessa obra, Meireles expressa os desvios da sociedade e da política da época.
Desvio para o Vermelho é uma das obras de Cildo Meireles em Inhotim, com exposição permanente desde 2006.
Crédito: Inhotim | Cildo Meireles, Desvio para o vermelho I: Impregnação, II: Entorno, III: Desvio, materiais diversos, 1967-84, foto: Pedro Motta
Formada por uma coleção de pequenas esculturas dedicadas ao povo Tupi, a série Cruzeiro do Sul foi composta com cubos muito pequenos feitos de pinho e carvalho, árvores consideradas sagradas para esse povo.
Fonte: Itaú Cultural | Cildo Meireles, Cruzeiro do Sul | Imagem: Pat Kilgore
A terceira série se caracteriza pela obra mais famosa de Meireles. Chamado Inserções em Circuitos Ideológicos (1970-1976), esse trabalho traz uma forte conotação política. Nele, o artista transpôs para cédulas de dinheiro e garrafas de Coca-Cola frases censuradas na época, como “Yankees Go Home” e “Quem matou Herzog?” (uma referência à morte do jornalista Wladimir Herzog, um forte opositor da ditadura militar).
Crédito: Edu Braga | Cildo Meireles, Inserções em Circuitos Ideológicos
Suas duas últimas séries, chamadas Através (1983-89) e Babel (2001), contam com conceitos interessantes. Na primeira, Meireles aborda questões mais amplas, como o modo como o ser humano percebe o espaço e o mundo. Já a segunda se relaciona com a Torre de Babel e a ideia de unidade, apesar das barreiras das línguas.
Através também é uma obra de Cildo Meireles exposta em Inhotim.
Crédito: Inhotim | Cildo Meireles, Através, 1983 -1989, materiais diversos, 600 x 1500 x 1500 cm, foto: Pedro Motta
Cildo Meireles e a sua importância no cenário internacional Crédito
Cildo Meireles ficou mundialmente conhecido por seu trabalho controverso que explora uma variedade de questões que vão muito além da política.
Com peças emblemáticas, o artista ficou caracterizado por sua versatilidade e por produzir as mais diferentes obras. Assim, ganhou inúmeros prêmios e ficou famoso no circuito internacional.
O Tate Modern, um dos mais icônicos museus do planeta, abriu suas galerias para abrigar as brilhantes obras do artista em 2008. Nesse mesmo ano, o seu prestígio é tanto que ele recebe o Velazquez Plastic Arts Award do Ministério da Cultura da Espanha.
A jornada brilhante de Meireles e seu impacto são marcados pela dedicação enorme do artista de interagir com seu público, entregando a ele mensagens expressas de forma inovadora, perspicaz e, acima de tudo, com muito significado.
Sua participação em Bienais do mundo data de 1976 até 2007:
- Veneza, 1976;
- Paris, 1977;
- São Paulo, 1981, 1989 e 2010;
- Sydney, 1992;
- Istambul, 2003;
- Liverpool, 2004;
- Medellín, 2007;
- Mercosul, 1997 e 2007;
- além da Documenta de Kassel, 1992 e 2002.
Suas obras também contaram com retrospectivas no mundo todo:
- IVAM Centre del Carme, em Valência, 1995;
- The New Museum of Contemporary Art, em Nova York, 1999;
- Tate Modern, em Londres, 2008;
- Museum of Fine Arts de Houston, 2009.
Com tanto sucesso, não é de se espantar que em 2009 tenha sido lançado um longa-metragem sobre sua obra. Sob direção de Gustavo Rosa de Moura, o filme foi intitulado “Cildo”.
Nesse mesmo o ano, o artista lança peças de gravura, que hoje fazem parte da coleção de todo amante das artes. Você é um deles? Pois saiba que a Laart conta em seu acervo com gravuras originais desse célebre artista. Com tiragem limitada, todas têm certificado de autenticidade e chegam a sua casa com segurança. Clique aqui para conhecê-las!
Crédito da foto de capa: Laart. Foto de Joca Meirelles.
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