Carmézia Emiliano: conheça a trajetória da artista

Carmézia Emiliano começou a pintar em 1992, quando um amigo lhe deu alguns materiais de pintura. Carmézia tinha acabado de se mudar da Maloca do Japó, onde vivia com a comunidade Macuxi, para Boa Vista. Desde então, a partir de seu autodidatismo, Carmézia criou seu estilo original no pintar, transformando sua arte em amuleto: para que não sejam esquecidas as origens e as tradições de seu povo e, hoje, é uma das maiores artistas do país.

A ARTE NAÏF

A arte naïf descreve um tipo de arte que, por, em sua maioria, serem realizadas por artistas sem uma educação formal em artes é marcada pela ausência de técnicas usuais na representação da realidade – por exemplo, o uso científico da perspectiva com pontos de fuga, ou as formas convencionais de composição e até mesmo a escolha da paleta de cores.

Assim, a arte naïf acaba por ter cores fortes e elementos decorativos, além de carregar consigo uma descrição minuciosa das imagens e uma visão onírica da realidade. Mas se, originalmente, ela se consagrou com pintores sem formação acadêmica, sua relevância no cenário das artes fez com que alguns artistas adotassem o uso de alguns de seus procedimentos.

TRAJETÓRIA DE CARMÉZIA EMILIANO

Carmézia mantém uma produção intensa durante os anos. Em 1996, tem sua primeira individual em Boa Vista, no Sesc Roraima, chamada de Lendas, Costumes e Histórias do Povo Macuxi. A partir disso, Carmézia ganha projeção local, chegando a ganhar o Prêmio Buriti da Amazônia de Preservação do Meio Ambiente, em 1996, e o Prêmio de Notoriedade Cultural, do Governo do Estado de Roraima, em 2003.

Mas é em 2006, 10 anos depois, que Carmézia ganha destaque no cenário nacional, quando, encorajada por um amigo e admirador de seu trabalho, se inscreve na Bienal Naïfs do Brasil, que aconteceu naquele ano no Sesc Piracicaba. Da Bienal, Carmélia Emiliano ganha o prêmio de aquisição e a identificação com a arte naïf. Carmélia participou da Bienal Naïfs do Brasil nas próximas sete edições até 2020, quando sua carreira teve uma guinada.

A partir de 2020, Carmélia participou de exposições no MAM-SP,  da mostra Moquém_Surari (2021); no Sesc Pompeia, da exposição “A Parábola do Progresso” (2022); no MASP, da coletiva “Histórias Brasileiras” (2022) e de uma individual “Carmézia Emiliano: A Árvore da Vida (2023)”, nas quais quatro obras fazem parte do acervo permanente do museu. Foi convidada também para a 35ª Bienal de São Paulo e a 1ª Bienal das Amazônias (ambas em 2023).

ESTILO DE CARMÉZIA EMILIANO

As obras de Carmézia Emiliano, no geral, retratam o cotidiano da vida do povo Macuxi: o plantio, a colheita, os alimentos, os artefatos e as paisagens; além de, por vezes, também trabalharem os mitos da cultura.

Carmézia Emiliano, Desfiando o algodão, 1998.
Carmézia Emiliano, Desfiando o algodão, 1998.
Carmézia Emiliano. Espremendo caju, 2008.

Mas Carmézia tem uma liberdade imensa na composição e nas proporções que adota seu quadro ao trabalhar repetições e eleger os elementos de destaque, além de por vezes trabalhar a divisão da tela em fragmentos. Além de colocar detalhes que, interconectados e ritmados, constroem a noção de uma comunidade. O que Carmézia faz em suas obras é romper com o que a arte ocidental prega e procurar por outras maneiras de ver o mundo.

Carmézia Emiliano. Paixara, 2020.

“As epistemologias às quais temos chamado decoloniais propõem, grosso modo, a investigação de novas formas de produzir e/ou revelar conhecimentos que não tenham como fundamento único a visão de mundo e de relações sociais impostas a populações de fora da Europa por meio da colonização (...) As artes que foram categorizadas como naifs surgem justamente da confrontação entre o modelo criado com base em uma única tradição de arte que repousa nos cânones acadêmicos (...) e a espontaneidade e criação intuitiva, de outras maneiras de se fazer arte. (...) Converte-se mais em uma intuitiva estratégia de subversão do que em uma escola ou movimento artístico.”

Renata Felinto, artista e curadora no catálogo da 15ª Bienal Naïfs (2020) Tweet
Carmézia Emiliano. Wazaká – Árvore da vida, 2022
Carmézia Emiliano. Vindo da cachoeira, 2013.
Carmézia Emiliano. Os caçadores, 2023.

Algumas gravuras de Carmézia Emiliano estão disponíveis no nosso acervo. Confira!

Share with

There are no comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Start typing and press Enter to search

Shopping Cart
Não há produtos no carrinho.