A poética das gravuras de Anna Maria Maiolino

Anna Maria Maiolino nasceu na Itália em 1942, mas logo, com doze anos, veio para a América Latina. Devido a escassez gerada pela guerra, a família Maiolino se mudou para Venezuela. Em Caracas, Maiolino, que era a mais nova de dez irmãos, começou a estudar desenho na Escuela Nacional de Bellas Artes Cristóbal Rojas. Mas em 1960, junto a família, agora com 18 anos, se mudou novamente e veio para o Brasil. E, no Rio de Janeiro, frequenta o curso de xilogravura na Escola Nacional de Belas Artes (Enba), além de fazer aulas de gravura com Adir Botelho e frequentar o ateliê de Ivan Serpa.

Ainda jovem a arte – e o desenho – era uma maneira de ela criar uma dimensão pessoal, um refúgio, onde, mesmo retratando o invisível e o metafísico, Maiolino consegue manter o racionalismo: seus trabalhos, não como indicam alguns críticos, não são de cunho surreal e da simbologia do inconsciente, mas sim exercícios na percepção do inconsciente na realidade material.

Nesse primeiro momento, Maiolino olhava para um tema considerado, à época, “banal”: o cotidiano, o cenário íntimo da vida das mulheres. Em cenas domésticas, ela usa do corpo, fragmentado e reconstruído, para falar da condição humana. Além do mais, a arte brasileira naquele momento buscava voltar às próprias raízes e, Maiolino, que era xilogravurista usa de elementos do cordel em seus trabalhos.

Uma imagem que abre a si mesma e deixa o olhar alheio penetrar o seu interior. Através dessa abertura, dessa fissura súbita, Maiolino tenta entrar no mundo dos afetos e sensações íntimas , no qual ela fala de sua vida como mulher e como artista em um mundo que é hostil e socialmente oposto a ela.

Diego Sileo em "O amor se faz Revolucionário"

Por outro lado, a repressão da ditadura já estava presente no dia-a-dia que ela retratava e, assim, surgem alguns de seus trabalhos políticos como O Herói e Glu Glu Glu, ambos de 1966. Com esses trabalhos, em 1967, Maiolino participa da exposição “Nova Objetividade Brasileira”, uma exposição que queria – mais uma vez – uma arte nacional autônoma, fugindo aos modelos estrangeiros. 

Anna Maria Maiolino. Anna, 1967. Xilogravura.
Anna Maria Maiolino. Anna, 1967. Xilogravura.
Anna Maria Maiolino. Glu Glu Glu, 1966. Xilogravura.

No final da década, ela se muda para Nova York, onde recebe uma bolsa para estudar no International Pratt Graphic Center. Lá ela começa com seus trabalhos em gravura em metal e abandona a figuração. Maiolino então experimenta com os materiais e as propriedades visuais das superfícies como cor e luz numa tentativa de arte anti-metafórica: aquela que não tem outra referência se não a si mesma. Na volta ao Brasil, Maiolino se aproxima dos neo-concretos e começa a experimentar também com o suporte das gravuras, propondo uma poética do vazio: onde a folha de papel se torna uma camada, um fragmento de universo e de espaço que indica a existência de outros.

Com a técnica da gravura você está em contato, em um primeiro momento, com a matriz ‘negativa’ e depois com o papel ‘positivo’ e, então, com a frente e o verso, com o interno e o externo. Do momento que eu fiz minhas primeiras xilogravuras, eu fiquei intrigada com o verso do papel, com os outros espaços ausentes, mas latentes. Então, com a gravura em metal, eu comecei a descobrir uma gama de novas possibilidades. Eu comecei a imprimir nos dois lados do papel, frente e verso, e então, ao cortar e dobrar o papel, comecei a incorporar o reverso no meu trabalho.

Anna Maria Maiolino
Ana Maria Maiolino. Ano 1942, dá série Mapas Mentais, 1973.
Anna Maria Maiolino. Sem Título, 1971. Gravura em metal.
Anna Maria Maiolino. Sem Título, 1971. Gravura em metal.

Apesar de ter começado com a xilogravura, Maiolino expandiu a sua obra para diversas técnicas, como esculturas, vídeo, instalações e pinturas. No entanto, sempre colocando o corpo e a percepção do espectador em cheque. Por seu trabalho, este ano, ela foi reconhecida, pelo conjunto da obra, com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza. Além disso, seus trabalhos estão em coleções pelo Brasil e pelo mundo como o MASP, o MoMA, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a Coleção Ella Cisneros, em Miami, a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o MALBA, o Centre Pompidou, o Museo Reina Sofia e a TATE Modern.

Algumas das gravuras de Anna Maria Maiolino estão disponíveis no nosso acervo. Confira!

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