Quando criança, Julio Le Parc se entediava com a gramática e as fórmulas que aprendia na escola. Se divertia apenas quando a professora pedia para que desenhasse, na lousa da sala, as figuras históricas dos feriados. A diversão foi também uma descoberta. A professora dizia: “tem que seguir o caminho de artista”. O tempo passou, Le Parc deixou para trás a cidade de Mendoza, na Argentina, e foi para Buenos Aires.
Mas foi só quando começou a estudar para o vestibular, com 14 anos, – quando passou pelo desenho em carvão e pelo desenho arquitetônico, exigidos na prova de admissão – que Le Parc entendeu que era esse o caminho que queria seguir: entrou na Academia de Belas Artes e no ano seguinte começou seus estudos.
Na faculdade, Le Parc conheceu um mundo diferente dos desenhos figurativos nas lousas. Por exemplo, entrou em contato com o trabalho da Asociación Arte Concreto-Invención, um grupo de artistas argentinos que traziam para a América Latina a arte concreta que estava em voga no exterior – em figuras como Max Bill e Josef Albers. Teve aulas também com Lucio Fontana – artista argentino que muitos creem ser italiano – , que reuniu os artistas que assinaram o Manifesto Branco, a favor de incorporar as novas tecnologias às artes. Quando veio a oportunidade de assiná-lo, Le Parc se recusou: era apenas um estudante e não conseguia criar nada no espírito do manifesto.
Em 1958, Le Parc chegou a Paris, onde conheceu Victor Vasarely e suas ideias: o artista solo está datado, era necessário grupos e coletivos que provocassem no público uma participação direta e uma influência em seu comportamento. Assim, com os amigos que trouxe da Argentina, fundou o Groupe de Recherche d’Art Visuel (o GRAV). O grupo, orientado pelos trabalhos e textos de Mondrian, procurou criar arte organizada por um sistema, sem que deixasse de ser interessante visualmente. Criaram então, obras em que a interação visual do espectador não está apenas no campo focal, mas também na visão periférica que cria movimento, sem um ponto fixo.
Nessa época, Le Parc experimentava com relevos e com luz, além de realizar móbiles. Sua pesquisa se orientava para criação de formas múltiplas e iluminadas onde a cor e a luz são manipuladas para criar uma gama ilimitada de variações. Além disso, outro braço de sua pesquisa, era sobre as possibilidades da transparência, como ela orquestrava o movimento da luz, e, assim, como objetos externos podem ser incorporados nas obras. Ainda que nesse primeiro momento suas obras de maior destaque fossem os móbiles, Le Parc continuou para outros meios incorporando-a também na gravura e na escultura. Assim, Le Parc cria um fenômeno visual com a estética da multiplicidade, que pode ser reproduzida de maneira industrial.
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