Farnese de Andrade: biografia e obras do artista sensível e incompreendido
Surrealista, abstrato, dadaísta e metafísico. Farnese de Andrade foi tudo isso e muito mais. Ousado, complexo e inovador, talvez só sua personalidade tenha sido maior que sua arte.
Fundamental para o cenário artístico brasileiro, o hábil desenhista, ilustrador, escultor, pintor e gravador trouxe às suas obras uma narrativa singela do interior. Porém, ficou mais conhecido por abordar temas dramáticos e polêmicos, como a violência, a opressão e a morte.
Assim, a biografia de Farnese de Andrade trafegou entre o lirismo, a poesia e a morbidez. Fizeram parte de seu trabalho a sensibilidade, o catabolismo criativo, o ceticismo sobre a felicidade e o existencialismo.
Para expressar sua arte, explorou temáticas delicadas, como o erotismo e a religião, o que mostra sua intensidade e coragem. Porém, apesar de brilhante, sua genialidade não foi compreendida por todos. Muitos críticos e colegas não entendiam seu trabalho e não gostavam de sua personalidade, enquanto outros, simplesmente, o ignoravam.
Sua estética e intenção demoraram a ser compreendidas. Entretanto, segundo palavras de Marcus Lontra, curador e crítico:
“Hoje, é impossível se pensar numa coleção de arte brasileira sem sua presença”.
Impossível também é não ficar curioso em conhecer as obras de Farnese de Andrade, suas pinturas e história de vida, não é mesmo? Fique com a gente até o fim e confira tudo isso!
Farnese de Andrade: biografia do artista plástico mineiro
Nascido em 1926 em Araguari, uma pequena cidade do Interior de Minas Gerais, Farnese de Andrade se muda para a capital do estado em 1942. Lá, entre os anos de 1945 e 1948, estuda desenho com um dos grandes mestres da pintura de paisagem mineira: Alberto da Veiga Guignard.
Em seguida, para tratar de uma condição pulmonar, muda-se para a cidade maravilhosa. Após curado, atua como ilustrador para jornais e revistas importantes do Rio de Janeiro e se mantém nesse segmento até 1960.
Um ano antes, começa a frequentar o Ateliê de Gravura do Museu de Arte Moderna da cidade.
Lá, sob olhar atento do franco-alemão Johnny Friedlaender, um dos maiores artistas do século XX, estuda gravura em metal, se aprimora nessa técnica e convive e desenvolve trabalhos em conjunto com artistas premiados, como Rossini Perez.
Farnese de Andrade e o uso de materiais incomuns
Sua produção artística em gravura se torna intensa a partir de 1964. Apresentando uma linguagem abstrata, o mineiro compõe obras que trazem cores fortes e formas regulares.
Nessa fase, a criatividade e imaginação são destacadas ao máximo, uma vez que o artista plástico, para criar suas matrizes, utiliza materiais incomuns encontrados nas praias cariocas e em antiquários, como corpos de bonecas, santos, castiçais, ossos e oratórios.
Nesse período, em que o regime militar impõe questões que destacam a “moral e os bons costumes”, Farnese de Andrade utiliza o simbolismo como arma de seu trabalho, para denunciar o moralismo político e a hipocrisia da família tradicional brasileira.
O pioneirismo e o isolamento do artista
Em 1967, desenvolve um trabalho focado em resina de poliéster e, assim, é considerado o precursor dessa técnica no Brasil.
Melancólico e inegavelmente lúdico, o mineiro retrata a solidão humana e suas complexidades. Assim, as pinturas de Farnese de Andrade e suas demais obras apresentam uma estética que traz altas doses conceituais e abstratas.
Para tanto, ousa ao utilizar imagens religiosas, as quais são apresentadas de cabeça para baixo ou se mostram aprisionadas em resina. Também explora a temática sexual, trazendo um apelo erótico ao seus desenhos, esculturas e demais trabalhos.
O já solitário Farnese de Andrade decide se isolar ainda mais e colecionar suas próprias peças. Nessa época, a estética surrealista e a abordagem metafísica ditam o seu trabalho, que trazem em cena questões do subconsciente, da alma, do mundo e de Deus.
Fazem parte também das obras de Farnese de Andrade referências biográficas, nas quais o artista lamenta o passado e analisa suas consequências em relação ao presente.
Trabalhando com um alta carga emocional e afetiva, e de forma espontânea, o artista plástico visita, revista e ressignifica suas obras com uma constância quase obsessiva.
A trajetória de Farnese de Andrade traz prêmios e condecorações. O artista mineiro participa de exposições no Brasil e no exterior e de uma série de bienais, mas é ignorado na Bienal Brasil Século 20.
Hoje, suas peças valem muito e fazem parte da coleção de importantes personalidades internacionais. Porém, sua trajetória não foi fácil, visto que seu trabalho não foi reconhecido por muitos, assim como sua sensibilidade e visão peculiar sobre o mundo também não foram bem compreendidas.
Em 1996, acontece a morte do artista, que ocorre devido ao excesso de lítio presente em seus antidepressivos.
Principais obras de Farnese de Andrade
Anunciação
Crédito: O Globo
Natureza-Morta
Crédito: Enciclopédia Itaú Cultural
Oratório do Índio
Crédito: Enciclopédia Itaú Cultural
Composição Abstrata
Crédito: Enciclopédia Itaú Cultural
Serigrafia
Crédito: Laart. Foto de Joca Meirelles
Difícil não ficar tocado pela história de vida de Farnese de Andrade, não é mesmo?
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As obras desse icônico artista plástico mineiro fazem parte de museus e de galerias no Brasil e ao redor do globo.
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