Geração 80: 40 anos depois e vocês ainda estão aqui

“Como Vai Você, Geração 80?”, exposição que definiu a arte brasileira contemporânea, completa 40 anos mês que vem.

Fotografia de visitantes na exposição "Como vai você, Geração 80?"
Fotografia da exposição "Como vai você, Geração 80?". Fonte: Memória Lage. Autor desconhecido.

Em 14 de julho de 1789, o povo francês tomou conta da Bastilha, prédio onde funcionava uma prisão, símbolo do Antigo Regime. O evento derrubou não só o prédio, mas incendiou a França com o espírito revolucionário que derrubou a monarquia nos anos seguintes.

195 anos depois, no mesmo 14 de julho, mas dessa vez de 1984, um grupo de artistas jovens e, em sua maioria, recém formados tomou conta da Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, no Rio de Janeiro, que na época era coordenado pelo pintor e professor, Luiz Áquila, com a abertura da exposição “Como Vai Você, Geração 80?”.

A data de abertura foi escolha dos curadores Sandra Magger, Marcus Lontra e Paulo Roberto Leal, que previam o caráter revolucionário da exposição. Em pleno processo de redemocratização, o palacete do Parque Lage foi tomado por um sentimento de liberdade: a geração 80, voltava aos formatos tradicionais e à pintura figurativa, com um visual pop e com um desejo de anarquizar.  Era não só o dia da queda da Bastilha, mas, como descreve Lontra, o “dia do declínio da Academia, em prol de uma arte ampla, geral e irrestrita”.

Ao responder a pergunta que dá título à exposição, 123 artistas ocuparam o espaço da EAV, com suas pinturas, desenhos, grafites, colagens e intervenções. Carlos Mascarenhas, lançava, junto aos convidados, aves de papel na piscina do prédio. Barrão, em sua intervenção, colocou duas televisões que falavam entre si. Chico Cunha pintou uma tela que reproduzia uma embalagem do bombom Sonho de Valsa. Muitos dos artistas que lá expuseram se tornaram grandes nomes da arte brasileira, confira alguns nomes!

 

OS ARTISTAS DA GERAÇÃO 80

Beatriz Milhazes (RIO DE JANEIRO, 1960)

Beatriz Milhazes, egressa da EAV, descreveu o sentimento coletivo como “uma força de querer simplesmente existir”. Com esse sentimento, levou à exposição uma série de acrílicos sobre tela que remetem à arte grega, mas com seu estilo figurativo e muralista.

Representação da obra Radamés após conquistar o Egito declara seu amor por Aída, de Beatriz Milhazes, expoente da Geração 80.
Beatriz Milhazes. Radamés após conquistar o Egito declara seu amor por Aída, 1984. Acrílico sobre tela. Reprodução: Jorge Bastos.

O estilo de Milhazes se desenvolveu para algo mais abstrato nos anos seguintes. Nos anos 90, desenvolveu uma técnica de colagem com folhas de plástico transparentes gravadas na tela como um decalque. Mais tarde, também começou a usar materiais descartados e encontrados na rua. A partir disso, Milhazes criou um estilo de pintura que remete à paisagem brasileira, com cores vibrantes e camadas geométricas, colocando na sua arte uma expressão selvagem, mas com uma precisão quase científica.

Milhazes teve sua primeira grande exposição individual internacional em 2001, na Ikon Gallery, em Birmingham, Inglaterra. Participou da Bienal de São Paulo duas vezes, em 1998 e 2004, e da Bienal de Veneza em 2003. E em 2009, a Fundação Cartier, em Paris, fez uma retrospectiva de seu trabalho. Mais recentemente, em 2020, a artista entrou para o acervo da Pace, em Nova York, e realizou uma exposição individual em 2022.

 

 

ANA MARIA TAVARES (BELO HORIZONTE, 1958)

Ana Maria Tavares, com 26 anos, levou para a EAV uma instalação que unia telas pintadas com tinta acrílica a paineis de madeira para criar um ambiente marcado pela ausência de funcionalidade. A relação entre espaço e sujeito se tornou seu objeto de pesquisa durante os próximos anos de carreira, que resultou em diversas instalações e site-specifics. De lá pra cá, realizou duas exposições individuais na Pinacoteca do Estado de São Paulo e tem obras em coleções ao redor do mundo como na Fundação Arco, na Espanha, no Museum of Fine Arts, em Houston, na Pinacoteca do Estado de São Paulo; e no MAM de São Paulo.

LEDA CATUNDA (SÃO PAULO, 1961)

Outra artista, Leda Catunda, apresentou na exposição do Parque Lage uma pintura em acrílico sobre tapeçaria, a Onça Pintada nº1, onde já demonstrava o interesse pela decoração artesanal e popular. Nos anos seguintes, se distanciou do trabalho figurativo, mas trouxe, para o abstrato, as texturas e as estampas populares, criando as chamadas pinturas-instalação. Catunda participou da I Bienal de Havana e de quatro Bienais de São Paulo – em 1983, em 1985, em 1994 e em 2018. Além disso, tem trabalhos em coleções públicas como o MASP, o Instituto Inhotim, o Stedelijk Museum, em Amsterdã, e o Toyota Municipal Museum of Art, no Japão.

Reprodução da obra de Leda Catunda, Onça Pintada nº1, expoente da Geração 80.
Leda Catunda. Onça Pintada nº1, 1984. Acrílica sobre cobertor.

ESTER GRINSPUM (RECIFE, 1955)

Ester Grinspum apresentou uma aquarela sobre papel artesanal de algodão, construindo uma investigação entre o subjetivo e a história da arte, que a acompanha até hoje, ao deslocar, muitas vezes, a percepção de objetos e dos lugares do cotidiano. Grinspum passou pela pintura, desenho, escultura, gravura, que ela levou para a Bienal de Havana, em 1984 e 1986, a Bienal de São Paulo, em 1989, e para coleções como a da Pinacoteca do Estado de São Paulo, a do MAC da Universidade de São Paulo, a do MASP, a do Brooklyn Museum, em Nova Iorque, a da Fonds National d’Art Contemporain, na França, e Coleção Patricia Phelps de Cisneros.

GONÇALO IVO (RIO DE JANEIRO, 1958)

Gonçalo Ivo apresenta na exposição uma paisagem em acrílico sobre tela. Ivo estabelece uma linguagem com elementos da arte primitiva brasileira e africana. No entanto, o que se destaca em seu trabalho é o seu uso da cor, já que a criação de pigmentos é inerente ao seu processo criador: a obra parte dos recursos materiais que estão disponíveis. Suas obras estão presentes no acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do MAC de São Paulo, e do MAC de Niterói. Recentemente, em 2020, participou de uma residência na Josef and Anni Albers Foundation, onde começou uma série de obras que lhe renderam uma exposição individual no Paço Imperial, em 2022, chamada Zeitgeist.

Algumas das obras dos artistas da geração 80 estão no acervo da Laart, confira abaixo:

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