Imagem do artista Carlos Cruz-Diez frente a uma de suas obras.

Carlos Cruz-Diez: Para criar as cores

Artista símbolo da arte cinética, o venezuelano Carlos Cruz-Diez dedicou sua vida e obra ao estudo das cores.

Desde Isaac Newton, na virada do século XVII para o XVIII, experimentos científicos são realizados para entender a natureza da cor. A física, então, definiu os postulados que consideramos até hoje. Por exemplo, sabemos hoje que percebemos a cor a partir de uma luz refletida cujas ondas, na retina, são lidas como uma cor; ou que a luz branca é composta por diversas cores e podem ser fragmentadas, ao incidirem em um prisma, em um arco-íris; ou até mesmo que todas as cores podem ser alcançadas pela mistura de duas ou mais cores primárias.

Assim, o estudo das cores se desenvolveu até que no século XX, um acadêmico, cansado das técnicas tradicionais da pintura, uniu a ciência e a arte para se transformar num artista. Carlos Cruz-Diez nascido em 1923, na cidade de Caracas, propôs em sua obra novas reflexões sobre a cor, entendendo-a como um evento cromático que acontece no espaço e no tempo e que é revelada por nossos sentidos, sem que haja um sistema de símbolos e signos, ou noções de passado e futuro; era a partir da cor que ele criava um “presente contínuo”.

 

As cores no trabalho de carlos cruz-diez

Assim, Cruz-Diez propõe uma nova relação entre a cor e o público, onde este descobre a capacidade de recriá-la com seus próprios meios de percepção e, a partir daí, encontrar respostas emocionais às experiências pessoais.

Viemos a entender a cor como uma certeza, através dos séculos, mas isso não é verdade. A cor é uma circunstância.

Além disso, o trabalho de Cruz-Diez é pautado nas experimentações – como um cientista, ele levanta hipóteses e as coloca em prova -, e, por isso, está sempre entre acertos e erros, sucessos e fracassos. Entre algumas de suas experimentações estava a mídia: passou pela pintura, mas foi na gravura que encontrou seu trunfo. “Me custou muitos anos para estruturar essas informações, o que me permitiu conhecer outras possibilidades do mundo cromático. Uma das mais importantes, consegui no mundo da gravura, da multiplicação de imagens”, afirma o pintor.

Carlos Cruz-Diez tornou-se um dos grandes artistas do nosso tempo, mas também um dos grandes pensadores. Sua obra e seus escritos mostram pelo menos nove linhas de pesquisa sobre como as cores são percebidas e criadas. Veja alguns exemplos abaixo:

Couleur additive

Representação de obra "Color Aditivo Serie Betzaida 2" de Carlos Cruz-Diez.
Carlos Cruz-Diez. Color Aditivo Serie Betzaida 2, Cromografia sobre alumínio.

Em seu “Couleur additive”, Cruz-Diez cria a partir dos encontros de dois planos de cores diferentes uma linha virtual de uma terceira cor que não foi registrada no suporte, o que ele chamava de “módulo de evento cromático”. Cruz-Diez aplica esse conceito em diversas composições e cria, através dele, um dinamismo nas cores, onde ao andar em volta de uma obra, novas cores surgem na retina do espectador.

Physichromie

Ao manusear um folheto, Cruz-Diez percebeu o reflexo de uma cor sobre o papel branco. A partir daí, introduziu em seus quadros uma estrutura em relevo, vertical ao quadro,  chamados de “moduladores de cor”, que altera a percepção a partir do movimento do espectador e da intensidade da luz do ambiente. Alinhando esse fenômeno, com os módulos de eventos cromáticos, as obras de Cruz-Diez criam, constantemente, novas cores percebidas, aproximando o fenômeno da cor como acontece na natureza.

Chromosaturation

A chromosaturation é um espaço artificial que Cruz-Diez cria a partir de câmaras em três cores: azul, vermelho e verde. As câmaras imergem o visitante numa situação monocromática e perturbam a retina que está acostumada a receber uma imensa gama de cores. Assim, as cores agem como gatilho: se revelam ao espectador como um fenômeno físico, despindo-o dos sistemas e das crenças criadas socialmente.

 

Induction Chromatique

Carlos Cruz-Diez. Induction Chromatique à double fréquence SCAD, 2017
Carlos Cruz-Diez. Induction Chromatique à double fréquence SCAD, 2017

A partir do fenômeno da persistência retiniana – que diz que ao olhar fixamente para uma cor e depois para o branco, se enxerga a cor complementar -, Cruz-Diez criou uma técnica que induz o espectador a enxergar uma cor que não está no suporte. Mas, se na física tradicional, a persistência retiniana acontece em duas etapas, Cruz-Diez conseguiu fazê-la em apenas uma. Ele consegue realizar esse fenômeno a partir da indução, ao sobrepôr, por exemplo, preto azul e branco, criando na retina do espectador um amarelo virtual, que não está no quadro.

Chromointerférence

Ao realizar um trabalho em serigrafia, Cruz-Diez decidiu experimentar sobrepor o quadro com uma folha plástica transparente impressa com o mesmo padrão que tinha acabado de gravar. Desse modo, conseguiu criar um “falso-prisma”, um fenômeno em que, ao mover a folha transparente sobre a obra, o espectador consegue perceber novas cores – como se uma luz branca fosse fragmentada por um prisma.

Reprodução da obra de Carlos Cruz-Diez, "Chromointerférence mécanique série C, Édition Denise René", de 1968.
Carlos Cruz-Diez. Chromointerférence mécanique série C, Édition Denise René, 1968.

Algumas das obras de Cruz-Diez e de artistas que se influenciaram em seus trabalhos e estudos estão disponíveis no acervo Laart. Confira:

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